Primeiro tenho de vos enquadrar naquela que foi uma das piores noites que tive. Passei o tempo todo em sobressalto e com o coração nas mãos. A minha terra, aquela onde cresci e onde vivem os meus pais, estava a arder. A proximidade com a quinta que os meus pais têm era muito pouca e das poucas vezes que conseguia falar com a minha mãe, as notícias não eram animadoras. Não havia certeza absoluta que a quinta estava destruída, que a nossa vinha e os nossos animais estariam mortos, mas as chamas andavam lá a cheirar há demasiado tempo. Os bombeiros eram os únicos a conseguir chegar lá perto e os meus pais, o máximo que podiam fazer, era estar no alto da vila, junto da minha casa. Fui dormir porque tinha de ir. O dia de hoje era demasiado importante para fazer uma direta. De nada valia ficar acordada, também. Fui dormir conformada com a destruição da quinta - o sítio onde tantas vezes brinquei e onde tive a minha mini horta em criança. Hoje, ao acordar, tinha uma mensagem da minha mãe a dizer-me que o fogo destruiu a quinta. Videiras, árvores de fruto, batatas, alfaces, tudo destruído. A única coisa que se manteve de pé foi a casa onde o meu Pai tem a adega e o galinheiro. Imagino o sofrimento das galinhas ao verem o fogo a escassos metros delas. Estou profundamente grata aos Bombeiros, por todo o esforço. Por terem conseguido salvar os animais de uma morte atroz. Estou grata a todos quantos lutaram por manter a minha vila, a minha terra, a salvo do fogo. Infelizmente, muito ardeu. A paisagem de uma das Serras mais bonitas de Portugal está mudada, desde ontem.
Por tudo isto, podem imaginar como fui para a entrevista. Assim que comecei a falar, sentia a minha voz embargada. O pensamento estava com os meus Pais e com a minha terra. Com o evoluir da entrevista, senti-me melhor. Se a entrevista correu bem, não sei. Sei que a minha vontade de lá trabalhar duplicou. Todo o ambiente, o desafio que seria, a constante aprendizagem e evolução na carreira, vai de encontro a tudo aquilo que queria neste momento. Agora, é esperar. É pensar que na vida acontecem coisas boas e que o meu dia de sorte pode estar a chegar. Porque todos merecemos ter aquele dia de sorte, e eu, queria que o meu dia de sorte chegasse em breve com uma resposta - Sim, foi a eleita para o cargo.
4 comentários:
Querida Ana,
Antes de mais, sinto muito pelo que aconteceu com a quinta da família. O fogo é um flagelo horrível. Daqui vai também o meu agradecimento a todos aqueles que ajudam a combater os incêncios.
Depois de tudo, sim, mereces ainda mais o emprego. Tenho a certeza que será teu. A frase da imagem diz tudo. Acredita em ti, acredita que o emprego é teu. A parte de quereres sair e de gostares tanto do sítio onde foste é tão parecida com a minha história há exactamente 2 anos atrás... E aqui estou eu. Consegui ficar com o lugar. Eu acredito em ti!
Beijinhos
Querida, agora deixaste-me em lágrimas. Hoje estou tão sensível :(
Obrigada pelo apoio, por acreditares :)
Beijinho grande
E estes terríveis incêndios que nunca mais nos abandonam. Nem quero imaginar toda a angústia que tu e os teus sentiram :(. Pensamento positivo quanto ao resultado da entrevista :)
Querida Ana, já tinha deixado aqui um comentário, mas com erro na publicação, calculei logo que não terias sequer recebido.
Chorei ao ler este teu post pois senti toda a intensidade que nele deixaste. Não consigo ter palavras possíveis de ânimo e como tal queria que soubesses que eu tenho 2 ombros que servem de consolo e um colo que também dá muito jeito.
Mantém por favor essa postura positiva e viva porque és com toda a certeza a grande alegria de quem te ama e força, muita força neste momento.
A resposta vai chegar e eu estou ansiosa por sabê-la por ti!
um grande, grande, grande e apertado beijo
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